PLASTIMODELISMO
Lembro-me bem de uma
tarde quente em minha cidade, agitada pela inquietação dos meus oito anos de
idade, quando minha mãe entrou no meu quarto com um sorriso contido, um olhar
intrigante, as mãos voltadas para trás e me perguntou: “Advinha o que eu trouxe
para você!”
Na minha cabeça era
muito claro que se tratava de um brinquedo. Talvez ela acreditasse que trazia
em suas mãos o seu tão sonhado “tranquilizante” para tomar minha atenção por
algumas horas e evitar finalmente que eu virasse a casa de cabeça para baixo
com meus carros de brinquedo, livros, aviões de plástico e zilhões de peças de
lego. Então, já estremecido pela ansiedade e curiosidade, a obriguei a revelar
o que escondia em suas mãos.
Em seguida, eis que
ela estende os braços para frente, segurando gentilmente uma caixa de tamanho
pequeno demais para ser algo espetacular, mas que chamou muito a minha atenção,
porque na tampa havia estampada a figura de um avião comercial. Cabe aqui
esclarecer que a aviação era uma paixão crescente em velocidade sônica para mim
naquela fase.
Enfim, abri a caixa e,
para a minha surpresa, havia alguns pedaços de plástico pouco interessantes
acompanhados de uma folha de instruções e decalques de uma empresa alemã que eu
só havia visto em revistas. Nesse
momento, eu percebi que se tratava de um avião desmontado, e que aquele monte
de peças quando coladas (por sinal, o pacote não incluía cola – o que me fez
pensar que se tratava de um lapso do fabricante) formariam o avião ilustrado na
tampa da caixa.
Horas depois de aberta
a caixa, pronto! Estava lá um 737-200 da Lufthansa na escala 1:125 sobre seus
trens de pouso levemente tortos porque deixei colar na posição que me convinha,
com o nariz para cima. Na verdade, eu não tinha ideia de que era necessário
colocar um contrapeso para evitar que a cauda pendesse. Sem cores e sem
decalques, porque eu desconhecia ser necessário usar água para aplicá-lo (me
pareceu mais conveniente tentar colar cada imagem). E, naturalmente sem os
suportes das turbinas, sem os atuadores dos flaps, porque, no meu entender,
seria estranho colocar aquilo nas asas do kit!
Para mim, era a minha
obra prima, feito Michelangelo, que bateu com o martelo no joelho de Moisés e
disse: “Parla!”, de tão apaixonado pela sua arte. Nascia
uma nova paixão. Uma paixão turbinada.
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